Por Marilene Santana Santos*
Acorda às cinco da manhã, prepara café, almoço e janta, arruma os filhos pra escola, prepara a roupa do marido para ele ir trabalhar, ajeita a lancheira das crianças, dá ordens aos filhos, entre uma garfada e outra, dá uma olhada nas redes sociais, verifica se há algo no grupo do trabalho para levar ou discutir, dá orientações e sugestões à filha mais velha para cuidar do filho mais novo, penteia os cabelos. Mesmo no limite do horário, ainda arranja um tempo para melhorar a arrumação da casa. Escova os dentes calçando os sapatos, olha para o relógio, percebe que já está perto de chegar a condução dos meninos, ufa... Despede-se das crianças e do marido, corre pra não perder o ônibus do horário. Consegue chegar não muito atrasada, recebe uma boa noite da diretora da escola que trabalha, dá um sorriso sem graça, mas não se deixar abater. Faz todo seu trabalho, se preocupa com fulano que não veio ou que está triste, procura saber dos pais o motivo. Dá o horário da saída, vai almoçar, entre uma mordida ou outra do seu grelhado, dá uma olhada naquele aluno que esqueceram na escola, aparece o responsável, procura saber o motivo do atraso, a essa altura, o almoço já esfriou, dá uma olhada no relógio percebe que só tem 10 minutos pra acabar de comer e descansar. Dá uma ligada para casa para saber dos filhos, Engole o resto, vai pra fila receber seus alunos do turno vespertino. Outra turma outros problemas, mas mesmo assim não desanima, resolve cada um deles. Da o horário pra ir pra casa, pega aquele ônibus cheio, torcendo pra alguém saltar logo pra poder sentar e descansar um pouco, dá uma cochilada de 15 minutos. Chega perto, salta uns pontos antes para ir ao mercado pra comprar o que falta nos mantimentos de casa. Chega em casa cheia de compras, vai arrumando, desembrulhando, enquanto faz isso pergunta se os filhos tomaram banho e fizeram as tarefas designadas. Bota a janta dos filhos depois de esquentar no micro-ondas. Chega o marido, bota sua janta também, mas manda antes tomar banho, resmunga mas vai. Ajeita a louça, vai orientar os filhos nas atividades da escola. Senta um pouco, dá uma olhada na novela. 10 minutos, levanta e vai colocar o filho pra dormir. Só depois disso é que lembra de tomar um banho. Verifica se todos já estão na cama, dá um beijo e faz uma oração. Lembra que tem que preparar a atividade para levar para o trabalho no dia seguinte. Acabou? Não! O marido ainda quer um carinho antes de dormir e ela também. Agora já é meia noite e tantas. Pega no sono, acorda....
Esse relato, mostra a realidade de muitos dias da rotina de uma trabalhadora de educação. Alguém que trabalha tanto em casa como no seu trabalho e ainda leva trabalho para casa. Ela, como muitas outras, não param durante todo o dia e as vezes chega em casa e o marido diz que não fez quase nada. Mulheres assim devem ser tratadas com todo respeito e consideração, pois são raros os homens que conseguem conciliar tantos afazeres ao mesmo tempo.
Até meados do século passado, as mulheres eram apenas tratadas como mulheres exclusivas do lar e foi com muita luta que conseguiram espaço para trabalhar fora, mas sem deixar de trabalhar dentro de casa.
Ainda há aquelas que não tem um companheiro e são a principal fonte de renda da família e vivem todo mês no limite. Isso acontece em cerca de 40% dos lares. Elas ainda recebem a menos que os homens em algumas profissões, mas em compensação tem mais escolaridade que os homens. Segundo IBGE 2010.
*Auxiliar de classe da Rede Pública Municipal de Lauro de Freitas, diretora sindical da pasta funcionários de escola na ASPROLF-Sindicato; graduada em fisioterapia pela Universidade Católica de Salvador, pós graduada em educação psicomotora pelo CESAP e em metodologias e estratégias de intervenção pedagógicas adequadas às crianças da educação infantil - Proinfantil
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